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Crédito e Juros: o boom do crédito para as famílias



O superaquecimento do consumo nos últimos meses está diretamente associado à evolução do crédito bancário às famílias, seja diretamente, seja indiretamente (mediante o financiamento do comércio). De acordo com os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil (BCB), em abril os empréstimos às pessoas físicas no segmento de recursos livres – ou seja, concedido voluntariamente pelos bancos, a taxas livremente pactuadas, a partir de recursos de tesouraria – cresceram em termos reais 17,2% frente ao mesmo mês do ano anterior, a maior taxa desde abril de 2008. Esse resultado foi o responsável pelo avanço de 11,7% do crédito total com recursos livres, já que as operações para pessoas jurídicas recuaram 0,3% pelo mesmo critério de comparação. O dinamismo do crédito direto às famílias é explicado, em grande parte, pelas operações de crédito consignado, que vêm expandindo num ritmo elevadíssimo em torno de 30%, desde novembro de 2009; em abril, esse ritmo atingiu 30,8%, também em termos reais. Contudo, as demais modalidades de crédito também têm avançado expressivamente – em seu conjunto, variação real positiva de 11,4% em abril –, com destaque para o financiamento à aquisição de veículos, que se manteve aquecido mesmo após o fim da isenção do IPI para carros novos (em 30 de março), registrando uma taxa de crescimento real de 29,3% em abril. Esse desempenho assimétrico entre o crédito com recursos livres às pessoas físicas e jurídicas, em parte decorre da grande retração dos valores em reais do crédito em moeda estrangeira concedido às empresas. Mas decorre também de uma estratégia ativa das instituições bancárias, relacionada a quatro principais fatores. O primeiro é a maior rentabilidade do crédito às pessoas físicas devido ao patamar mais elevado das taxas de juros. Em segundo lugar, a trajetória mais benigna da inadimplência no segmento de pessoa física, que atingiu 6,8% em abril, um recuo de 1,0 ponto percentual (p.p) na comparação com novembro de 2009, quando o movimento de queda teve início; no caso das pessoas jurídicas, também houve recuou, mas bem menor (0,2 p.p.). Em terceiro lugar, o acirramento da concorrência nesse segmento em função da maior agressividade dos bancos públicos com carteira comercial (Caixa Econômica Federal - CEF e Banco do Brasil - BB), inclusive mediante a redução das taxas de juros. Em quarto, a maior facilidade de avaliação da capacidade de pagamento do crédito ao consumidor do que do crédito empresarial (que exige modelos mais sofisticados de avaliação do risco de crédito). Volume de Crédito. O estoque total de crédito, que inclui os recursos livres e direcionados, disponibilizados pelo setor financeiro no mês de abril foi de R$ 1.468 bilhões, o que representou uma variação real no ano de 11,7%. Em termos de proporção do PIB, o crédito atingiu 45,2% contra 41,0% registrados no mesmo mês de 2009. O crédito ao setor privado totalizou R$ 1.408 bilhões, assinalando um aumento real de 9,6% em comparação ao mesmo mês de 2009. Segundo o Banco Central, esse resultado deveu-se à expansão das carteiras das pessoas físicas impulsionadas pelo mercado interno aquecido, especialmente as operações de crédito especial voltadas a aquisição de veículos. A média diária das concessões de crédito a aquisição de veículos registrou uma alta de 83,2% em abril comparado ao mesmo mês de 2009. Neste mesmo período, as concessões médias a pessoa física cresceram 19,1%, enquanto que no total (pessoa física e pessoa jurídica), o aumento foi de apenas 11,8%. Setorialmente, o volume de recursos ao setor habitacional manteve-se elevado devido aos financiamentos com recursos da caderneta de poupança e FGTS, registrando alta real de 42,2%, acumulando em abril R$ 104,1 bilhões. O setor industrial absorveu R$ 307,4 bilhões em recursos, o que representou uma queda, já descontados os efeitos da inflação, de 1,7%. Cabe destacar que essa retração deve-se a queda de recursos provindos de do sistema financeiro privado nacional e privado estrangeiro, que assinalaram variação negativa de 8,5% e 16,3%, respectivamente. O volume total de crédito destinado ao comércio foi de R$ 140,9 bilhões (com variação real anual de 11,7%). O crédito rural, por sua vez, assinalou expansão real de apenas 2,5% frente ao mesmo mês de 2009 e registrando valor de R$ 115,9 bilhões. O volume de crédito com recursos livres alcançou R$ 981,2 bilhões, com elevação real de 6,1%. Os empréstimos destinados às pessoas físicas somaram R$ 492,6 bilhões, com acréscimo real de 12,3%. Os financiamentos às pessoas jurídicas não apresentaram crescimento, descontada a inflação do período - totalizaram R$ 488,6 bilhões - , traduzindo o recuo de 40,8% nas carteiras com recursos externos, visto que os recursos domésticos obtiveram crescimento real de 9,4%. O volume de crédito com recursos direcionados atingiu R$ 486,9 bilhões, expandindo-se, já descontados os efeitos da inflação, 25,0% frente ao volume de abril de 2009. Esse desempenho foi influenciado pelas operações do BNDES (R$ 295,6 bilhões e aumento real de 29,8%), assim como pelo crédito habitacional (R$ 99 bilhões, com crescimento real de 43,0%). Taxa de Juros. Em abril, a taxa de juros total incidida nas operações de crédito com recursos livres foi de 34,3% a.a., o que representou estabilidade em comparação a março, e um recuo de 4,3 p.p. frente ao mesmo mês do ano anterior. Já a taxa de juros incidida sobre as operações de pessoas jurídicas fechou o mês em 26,3% a.a., mesmo valor do mês imediatamente anterior e queda de 2,5 p.p. frente a abril do ano passado. Por outro lado, a taxa de juros sobre pessoa física, ao ficar em 41,1% a.a., registrou aumento de 0,1 p.p. em comparação a março do presente ano e recuo de 7,7 p.p. em comparação a abril de 2009. Dentre as modalidades de crédito para a pessoa física, destacam-se o crédito pessoal e aquisição de bens - veículos. O primeiro assinalou aumento de 2,4% e o segundo apresentou crescimento de 3,0% em relação a março. A taxa de juros para a aquisição de veículos manteve-se a mesma em relação a março (23,3%). A modalidade cheque especial, por outro lado, apresentou, na passagem março/abril, acréscimo de 1,0 p.p. ficando em 161,3% a.a.. O spread bancário, definido como a diferença entre a taxa média de juros que as instituições financeiras pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los, registrou queda na passagem de março para abril de apenas 0,2 p.p., porém assinalou decréscimo de 4,4 p.p. na comparação mensal (mês/mesmo mês do ano anterior), ao fechar o mês em 23,8 p.p. A taxa de captação total, que representa o custo de obtenção dos recursos financeiros para os bancos comerciais, foi de 10,5% a.a., o que representou estabilidade em relação ao mês imediatamente anterior e em relação a abril de 2009. Inadimplência. A inadimplência, considerando os atrasos superiores a 90 dias, ficou estável em abril no confronto com março, chegando a 5,0%. Os atrasos relativos às carteiras de pessoas físicas alcançaram 6,8%, com retração mensal de 0,2 p.p., enquanto no segmento de pessoas jurídicas a taxa de inadimplência permaneceu estável em 3,6%.

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