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Usina quer vender álcool direto a posto



Margens de lucro elevadas, distribuição de venda e fretes muito altos devido à logística ineficiente. Tais fatores contribuem para encarecer o preço do álcool combustível que chega ao consumidor com preço dobrado. Reduzir um dos elos da cadeia e vender o álcool das usinas direto para os postos revendedores de combustíveis é um pleito antigo, mas permanente, do setor sucroalcooleiro. O tema voltou a ser discutido ontem em Araçatuba durante o Simpósio Datagro/Udop, evento que faz parte da Semana Feicana/Feibio - Feira do Setor de Energia, que será aberta oficialmente hoje e termina na quinta-feira, dia 12. A expectativa é de mudanças o mais breve possível, o que aumentaria as vendas e o consumo dos mercados interno e externo. A obediência aos elos da cadeia do setor de combustíveis é uma necessidade imposta por lei federal, mas que, para o setor sucroalcooleiro, deve ser revista. Segundo o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, há várias ações do setor visando discutir a conveniência da manutenção dessa situação. "Isso está correndo no Congresso Nacional e junto aos ministérios envolvidos", explica. A discussão existe há pelo menos três anos. A duplicação do preço do álcool até chegar às bombas de combustíveis é uma prática nacional e bastante perceptível em Araçatuba. Conforme matéria publicada pela Folha da Região na semana passada, enquanto o álcool hidratado - utilizado para abastecer veículos - acumula quedas consecutivas nas usinas, sofre efeito contrário nas bombas. Considerando apenas o mês de fevereiro, o recuo nesta entressafra é de 13%. Conforme a reportagem, o álcool, cotado a R$ 0,7107 nas usinas, chega para o consumidor araçatubense ao preço médio de R$ 1,469, sendo o preço mais praticado R$ 1,499. Na sexta-feira, dia 6, o indicador Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo) mostrou nova queda nos preços do álcool, que passou para R$ 0,6927, recuo de 2,5% no comparativo com a semana anterior (23 a 27 de fevereiro), quando o preço era R$ 0,7107. Foi a quarta queda consecutiva desde fevereiro, acumulando redução de 15,6%, o que representa R$ 0,128 por litro. Ontem, os postos revendedores de combustíveis mantinham os preços da semana passada. Para o presidente da Udop (União dos Produtores de Bioenergia), José Carlos Toledo, falta transparência no resto da cadeia de distribuição e comercialização de etanol, pois o setor sucroalcooleiro trabalha com preços ditados e divulgados pela grande mídia, enquanto no trajeto final desse combustível, da usina para os postos, sem uma justificativa clara, os preços sobem demasiadamente. "O setor perde um volume de consumo muito grande por ano por causa dessa diferença de preço", afirmou. Segundo Toledo, os postos também estão pagando caro pelo produto. "Grande parte disso tudo está ficando com as distribuidoras. Não é um problema entre o posto e a gente (usinas), é a distribuidora que está no meio." Para o conselheiro da Udop e diretor da consultoria Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, a mudança da legislação é uma tentativa de criar condições melhores e reduzir pressões negativas do comportamento de um setor concentrado, que é a distribuição, comprando de um setor completamente desconcentrado, o produtor. "A essência está de fato numa medida regulatória mais consciente, permanente e equilibrada", adianta. O uso do álcool combustível em substituição à gasolina gerou economia de US$ 71 bilhões em valores nominais ao Brasil desde a criação do Proálcool, em 1975, montante que chegaria a US$ 234 bilhões se o valor fosse reajustado considerando o juro pago pela dívida externa do País. Os cálculos são do presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari. Ao adicionar álcool na gasolina ou utilizar o combustível renovável diretamente no tanque, como combustível veicular, um volume expressivo de petróleo deixou de ser importado, o que garantiu a economia nesses 33 anos, além dos preços mais baixos do álcool em relação à gasolina. "Os cálculos são bastante conservadores, utilizando uma taxa de conversão da dívida de 200 pontos-base, o que nunca ocorreu no caso do Brasil, que hoje tem um risco em torno de 400 pontos-base", disse. "Os dados mostram a importância do programa do uso do álcool como substituto da gasolina no Brasil e a grande perda seria para o País caso o setor se fragilizasse", completou Nastari. Os cálculos apontam ainda que entre 1975 e 2008 o álcool substituiu 280,88 bilhões de litros de gasolina no Brasil, ou 1,77 bilhão de barris, o correspondente a 13% das reservas de petróleo do País. Ainda segundo o presidente da Datagro, as receitas com exportações de açúcar, álcool, melaço em 2008 somadas à gasolina substituída geraram divisas de US$ 18,7 bilhões no ano passado.

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